Um relatório divulgado neste mês revelou a precariedade das condições de trabalho remoto mediado por plataformas digitais em diversos países, incluindo o Brasil. Segundo o estudo Fairwork Cloudwork Ratings 2025, conduzido por pesquisadores da Universidade de Oxford e do instituto WZB Berlin, as plataformas oferecem remuneração insuficiente, atrasos nos pagamentos e total ausência de garantias trabalhistas básicas.
O levantamento avaliou 16 plataformas populares de trabalho em nuvem e ouviu cerca de 750 trabalhadores de 100 países. A média de pontuação das plataformas foi de apenas 3,5 em uma escala de 10 pontos. Entre as piores avaliadas estão Amazon Mechanical Turk, Freelancer e Microworkers, que não receberam nenhuma pontuação.
A pesquisa aponta que seis em cada dez trabalhadores têm nas plataformas sua principal fonte de renda. Mesmo assim, um terço dos entrevistados afirmou já ter deixado de receber por algum serviço ou recebido pagamento em cartões-presente, o que os obriga a buscar alternativas para converter em dinheiro.
“Gostaria de poder receber meu dinheiro em minha conta bancária em vez de cartões-presente”, relatou um trabalhador da Nigéria. O problema é agravado pela localização das empresas, muitas delas sediadas no Norte Global, com pouco compromisso com os trabalhadores de outras regiões.
Somente quatro das 16 plataformas avaliadas conseguiram comprovar que pagam ao menos o salário mínimo local, mesmo em um setor que movimentou US$ 557 bilhões em 2024, com expectativa de chegar a US$ 647 bilhões este ano. No Brasil, o salário mínimo atual é de R$ 1.518.
Além da baixa remuneração, os contratos das plataformas são frequentemente vagos e de difícil compreensão, especialmente para trabalhadores que não dominam o inglês. Isso pode levar à suspensão de contas por descumprimento de regras pouco claras.
Casos de problemas de saúde relacionados ao trabalho também foram registrados. Uma trabalhadora do Peru, por exemplo, precisou operar a retina após jornadas noturnas intensas diante do computador. Mesmo assim, foi desligada sem qualquer apoio da empresa.
O coordenador do estudo, o pesquisador Jonas Valente, destaca a urgência da regulamentação do setor. “Sem ação, milhões de pessoas vão continuar presas em postos de trabalho digital inseguro e mal remunerado, sem voz, sem direitos e sem proteção”, alertou.
No Brasil, o Ministério Público do Trabalho acompanha denúncias por meio do Projeto Plataformas Digitais. Segundo o procurador Rodrigo Castilho, há um quadro claro de precarização e violação de direitos. Ele defende que, enquanto não houver regras específicas, deve-se aplicar a legislação trabalhista vigente.
Apesar de o projeto Fairwork ter impulsionado melhorias em algumas plataformas desde 2023, apenas três das 16 empresas investigadas responderam ao estudo e reconheceram falhas. O restante ignorou o chamado. O relatório reforça a necessidade de uma regulamentação nacional e internacional para proteger cerca de 400 milhões de trabalhadores que atuam nesse modelo em todo o mundo.
Com informações da Agência Brasil
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